segunda-feira, 21 de abril de 2008

Não à estátua na Serrinha

Cidades - Diário da Manhã
27/03/2008

Em 1989, a escultora Neusa Moraes e o então prefeito de Goiânia, Nion Albernaz, acertaram a criação de estátua de Pedro Ludovico Teixeira, fundador de Goiânia, montado em cavalo. Até sua morte, em 2004, Neusa lutou para ver a obra instalada. O Estado assumiu o projeto, bancou os gastos com a fundição e, finalmente, a estátua eqüestre será instalada em Goiânia. Ninguém reclama da homenagem, mas a pretensão da Agência Goiana de Cultura (Agepel) de colocar a escultura na Serrinha é duramente criticada. O ambientalista Antônio Carlos Volpone, presidente da Associação dos Exploradores de Cavernas e Elevações (ONG Guerreiros da Natureza), diz que a entidade é radicalmente contra qualquer atividade humana na Serrinha e por isso não concorda com a instalação da estátua de Pedro Ludovico no local. “A homenagem é justa, mas lutamos demais contra a instalação do projeto do heliporto (entenda-se teleporto) e não podemos admitir a colocação de nada que possa prejudicar o ambiente.” Volpone lembra que os Guerreiros, em parceria com professores das universidades Católica e Federal de Goiás e outras entidades, reuniram mais de mil pessoas para dar um abraço simbólico na Serrinha. “Na época da discussão sobre o heliporto, plantamos árvores do Cerrado que estão crescendo. A Serrinha está ficando mais bonita com a volta da vegetação. O ideal é que a área fosse completamente fechada à presença humana. O terreno é pedregoso. Cada planta pisoteada é uma perda difícil de ser recuperada.”O escritor Geraldo Coelho Vaz, ex-presidente da Academia Goiana de Letras e ex-presidente da Secretaria de Cultura do Estado, atual Agepel, acaba de escrever uma pequena biografia de Pedro Ludovico, que integrará o livro Academia Goiana de Letras - História e Antologia. A obra também conterá um texto de Pedro Ludovico, extraído de seu livro Falando com Franqueza. Coelho Vaz não tem dúvida sobre a localização ideal para a estátua do fundador de Goiânia: “Sou favorável à Praça Cívica porque foi lá que Pedro viveu dias decisivos de sua vida pública e ele também morou no Palácio das Esmeraldas.” Diz que o melhor lugar para a estátua é o terrreno ocupado pelo antigo Palácio das Campinas, onde hoje funciona um setor da Secretaria de Finanças do município. “Defendo a colocação da estáua de Pedro na Praça Cívica e já dei depoimentos outras vezes sobre isso. Além da obra de Neusa, deve ser construído um Memorial a Pedro Ludovico. Espaço para visitação pública, com objetos de seu uso pessoal, como a caneta que ele usou para assinar a fundação da Academia Goiana de Letras. Pedro foi ocupante da cadeira número um da academia, e foi seu presidente. Sua figura representa uma imensa riqueza histórica que o os moradores e visitantes de Goiânia precisam conhecer.” O ambientalista John Mivaldo, ex-secretário de Meio Ambiente de Goiânia e professor de Planejamento Urbano da Faculdade de Engenharia da UCG, diz que, por ser área de preservação ambiental, o morro não pode abrigar obra que prejudique a infiltração de água ou altere as características do local: “Não conheço o projeto, mas, em tese, se não houver impermeabilização do solo, nem retirada de terra, se a obra não provocar alterações morfológicas, não vejo como problema a simples colocação da estátua.” O secretário de Cultura de Goiânia, Kléber Adorno, lava as mãos sobre a questão. Diz que o assunto será resolvido pela Agepel e confia que a agência vai achar a solução adequada. A decisão de instalar a estátua na Serrinha foi da presidente da Agepel, Linda Monteiro. A idéia desagrada a ambientalistas porque o morro, que em princípio deveria ser área de preservação, já abriga construções e torres de transmissão de sinais de rádio e televisão. Apesar destas intervenções, é uma das poucas áreas de Cerrado que sobreviveram em Goiânia.

Luta por obra na Praça Cívica

Desde a morte da artista Neusa Moraes, em 2004, Marina Moraes e o marido, João Batista Rodrigues de Moraes, irmão da artista, lutaram para ver a estátua de Pedro Ludovico instalada na Praça Cívica. João Batista morreu em julho do ano passado. E Marina não desistiu. “Peregrinei por todos os órgãos e acompanhei todo o andar do processo. Meu temor é que os irmãos de Neusa, todos na terceira idade, morram antes de ela receber essa homenagem.”A empresa que fundiu a estátua de Pedro Ludovico doou a fundição do busto da artista em bronze. Se encontrar uma instituição que pague pela criação, Marina já tem o artista que fará a imagem de Neusa. É o escultor Julio Valente. “Ele sempre trabalhou Neusa, que o considerava um grande talento.” Diretor de Conservação do Cerrado da ONG Guerreiros da Natureza, Anderson Kiaoki diz que a estátua tem de ficar na Praça Cívica, porque a praça centraliza todas as autoridades. “Estão querendo acabar com o único pedaço de preservação do Cerrado que ainda resta em Goiânia, que é o Morro da Serrinha. Se colocar a estátua lá, vai asfaltar, e causar grande impacto no meio ambiente.” Os estudantes Vitória Coelho, Renato Silva e Antônio Carlos Silva, alunos do Colégio Classe A, visitaram ontem pela primeira vez o Morro da Serrinha, região sul de Goiânia. Os três ficaram encantados com as árvores tortas que existem no local. “Eu não sabia que existia um pedaço do Cerrado em cima do morro”, afirma Vitória, que discorda da estátua na Serrinha. Segundo ela, o lugar é muito isolado para sediar um monumento tão importante.

Professora sugere criação de concurso

Márcia Metran de Mello, doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e professora de Arquitetura da Universidade Católica de Goiás (UCG), autora do livro Goiânia: cidade de pedras e de palavras”, defende a realização de concurso público para escolher o melhor projeto para estátua de Pedro Ludovico. Márcia considera que Serrinha e Praça Cívica podem ser locais apropriados para abrigar a obra de Neusa Moraes. Sua preocupação vai mais longe: “Simbolicamente, ambos os lugares são adequados. O que é mais importante é o diálogo que a população terá com a estátua, como serão as condições de freqüência do público, como ela será ambientada. A melhor solução seria o concurso público, para que os arquitetos apresentem soluções técnicas e a melhor seja escolhida.”Já a dona de casa Marina Moraes, cunhada da escultora Neusa Moraes, defende a instalação de um busto da artista junto à estátua eqüestre de Pedro Ludovico. Marina diz que Neusa ganhou prêmios importantes em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas preferiu voltar para Goiânia: “Ela amava Goiás. Merece essa homenagem.”mais conhecidaO Monumento às Três Raças, criação de Neusa Moraes para homenagear europeus, africanos e indígenas que construíram Goiás e edificaram Goiânia, é a obra mais conhecida da artista. O bloco sustentado pelos representantes dos trabalhadores passou no teste da popularidade . A homenagem à miscigenação é um dos cartões postais mais conhecidos de Goiânia. A escultura em bronze enfeita a Praça Cívica desde 1967.

2 comentários:

Unknown disse...

mais nem ligam pro serrinha vamo deixar aquilo quieto
nos bikeres decen la quase todo dia e eu queria que vc nao fechase la nao blz

João Paulo Antunes disse...

Amigo, também já desci muito de bike nesse morro, já quebrei "quadro" de bicicleta no meio, incontáveis "freezers" e raios, pedais e "garfos", de tanto fazer trilha.
Mas agora vê se me entende: se deixarmos "aquilo quieto", como você pede aí, certamente você não terá nem trilhas, nem segurança e muito menos morro para vocês, "bikers", executarem suas atividades. Ficar quieto é tudo que um pessoal aí quer para poder "derrubar" o morro e construir prédios sobre suas trilhas. Espero que agora você tenha entendido o propósito de criar aí um parque para podermos conservá-lo. Não sei se você já percebeu, mas isso já foi feito em muitos outros parques de Goiânia, Vaca Brava e Flamboyant, por exemplo, e todos os moradores, visitantes, bikers, coopers e etc agradecem.
Vamos pensar para frente. "Blz"!