quarta-feira, 14 de julho de 2010

Significados possíveis da instalação do monumento eqüestre de Neusa Morais no Parque Serrinha

Por Osmar Pires Martins Júnior*
(Em e-mail enviada à AMMA, Agepel e à AAMS)


Em síntese, os prós e contras dos 2 locais mais citados são:

1) Praça Cívica:
- a favor: local urbanizado com estrutura pronta;
- contra: local saturado, sem capacidade de estacionamento, onde a estátua concorrerá com o Monumento das Três Raças;

2) Morro Serrinha:
- a favor: local historicamente adequado, de cota topográfica elevada, de onde Pedro Ludovico, cavalgando, escolheu o local para edificar a cidade;
- contra: impactos ambientais decorrentes da implantação da estátua e da visitação (tais impactos poderão ser mitigados e compensados com a implantação de um parque ecológico bem projetado e com a retirada das torres ali existentes).


SIGNIFICADOS POSSÍVEIS DA INSTALAÇÃO DO MONUMENTO EQÜESTRE DE NEUSA MORAIS NO PARQUE SERRINHA

O expoente escritor José Mendonça Teles, nas suas Crônicas & Outras Histórias, publicadas em 3 de dezembro de 2007, sob o título “O cavalo de Pedro Ludovico”, lançou o desafio aos homens públicos, verdadeiramente comprometidos com Goiânia: “já pensou um mirante, com turistas à vontade e o Pedrão lá em cima, montado à cavalo, olhando a cidade que ele carinhosamente construiu?”.

O expoente escritor nos propõe a instalação da monumental obra de Neusa Morais – a estátua eqüestre de Pedro Ludovico, cavalgando, vistoriando a área que escolheu para edificar a nova capital de Goiás no Morro Serrinha. Noutra crônica, escrita em 29 dezembro de 1996, afirmou: ”foi vistoriando as terras, montado a cavalo, na região da Serrinha, que Pedro Ludovico decidiu-se de que aqui seria a nova capital”.

Além dos aspectos históricos e culturais envolvidos, acrescento outros de natureza ambiental para reforçar a proposta lançada. O Morro Serrinha ocupa uma área de cento e oito mil metros quadrados, entre o Setor Pedro Ludovico e o Bairro Serrinha, próximo ao Setor Bueno, com um perímetro de um mil quatrocentos e cinqüenta metros. Nesta região da cidade há carência de espaços livres e, em especial, de áreas verdes, com desequilíbrio entre áreas construídas e não construídas, na qual prevalecem as primeiras, reduzindo a disponibilidade de espaços livres. As áreas públicas alienadas no entorno direto do Morro Serrinha somam seiscentos e oitenta e um mil metros quadrados, correspondendo a uma dilapidação de 20,5% do patrimônio público.

Somente no Setor Bueno foi privatizado um total de área pública de trezentos e cinqüenta e sete mil metros quadrados. O processo de alienação, parcelamento e edificação das áreas públicas da região é intenso e levou à formação de um passivo de um milhão e trinta e sete mil metros quadrados de áreas públicas desvirtuadas da sua função original, destinadas à proteção do meio ambiente, ao lazer e recreação, à educação, saúde e segurança publicas. Este processo está associado à impermeabilização do solo e à manifestação de episódios de enchentes causadores de prejuízos ao patrimônio público e particular, à saúde pública e à vida humana.

Apesar da elevada densidade demográfica da região, poucas são as Unidades de Conservação existentes com áreas expressivas, como o Jardim Botânico que possui uma área de quase um milhão de metros quadrados. Portanto, pode-se afirmar que se trata de uma região com um déficit de espaços públicos, comprometendo funções urbano-ambientais relevantes ao equilíbrio do meio urbano, de lazer e de recreação ao goianiense.

O Morro Serrinha se constitui hoje na única reserva de Cerrado dentro da área urbana de Goiânia. O Cerrado é o tipo predominante de formação vegetal na região central do País e que tem sido equivocadamente relegado a um segundo plano por sua fisionomia menos “exuberante” que as matas. Essa constatação aponta para a necessidade de preservação da vegetação daquele morro.

Do ponto de vista fisionômico, a vegetação da Serrinha é de “cerrado típico”, com dois estratos, um rasteiro e outro arbustivo-arbóreo, este formado por árvores de porte baixo. No aspecto florístico, levantamento feito pelo professor Heleno de Freitas, do Departamento de Botânica da UFG, registrou 71 espécies vegetais, como jatobá-do-cerrado, ipê-do-cerrado, barbatimão, faveira, carobinha. Esse número de espécies é próximo da média observada em áreas de Cerrado. Esse dado indica que, apesar do intenso nível de degradação sofrido, a área da Serrinha milagrosamente conserva as características ecológicas típicas dos ecossistemas nativos.

A proposta de José Mendonça Teles de instalação de um mirante com a estátua eqüestre de Pedro Ludovico, no contexto de instalação de um Parque Natural, apresentado pela presidente da Agepel, Linda Monteiro, com o apoio do presidente da Amma, Clarismino Junior, expressa, portanto, significados de homenagem ao criador Pedro Ludovico e sua obra, de reconhecimento à escultora Neusa Morais e de preservação de um patrimônio ambiental, histórico e cultural goianiense.

*Osmar Pires Martins Júnior, professor de Pós-Graduação na PUC-GO e no IPOG, biólogo, engenheiro agrônomo, mestre em Ecologia, doutorando em C. Ambientais, é membro - titular da cadeira 29 (patrono: Attílio Corrêa Lima) da Academia Goianiense de Letras.

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