sexta-feira, 11 de junho de 2010

Manifesto SOS Reservatório do João Leite

Diário da Manhã
Cidades, p. 06
08/06/10

Ao Governo do Estado, às Prefeituras da Região Metropolitana de Goiânia e à sociedade.


É preciso alertar as autoridades competentes e despertar a sociedade acerca da gravidade que representam os riscos de contaminação da água que vai garantir o abastecimento de água da população na Região Metropolitana de Goiânia até 2025. São aproximadamente 3 milhões de pessoas que utilizarão a água do João Leite para beber.

Todos os esforços devem ser sistematicamente desenvolvidos, no sentido de que o governo do Estado assuma a sua responsabilidade e a população colabore, no sentido de assegurar a proteção máxima ao reservatório formado pela Barragem do Ribeirão João Leite.

Não se pode, em hipótese alguma, tolerar ou permitir qualquer tipo de uso da represa. A sua utilização para atividades recreativas de balneário, esportes náuticos, navegação, pesca ou qualquer outra finalidade estranha ao seu objetivo, que é fornecer água potável, seria o mesmo que condená-la à irremediável contaminação. E isso comprometeria seriamente a qualidade da água consumida pela população.

A situação atual do reservatório, que integra o Sistema Produtor de Água João Leite, é extremamente preocupante e exige providências imediatas, contundentes e enérgicas, que não podem mais ser postergadas. Afinal de contas, o reservatório já entrou em operação. Está abastecendo parte da população de Goiânia. Os riscos, portanto, estão bem presentes, claros e evidentes.

Em que pese a importância fundamental daquele complexo, praticamente inexiste uma fiscalização eficiente, tanto que foram flagrados recentemente no local, por uma equipe da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente, comandada pelo titular, Delegado Luziano Severino de Carvalho, diversas fontes poluidoras, causadoras de degradação ambiental. Dentre elas podemos citar: pesca clandestina, gado bebendo água, banhistas, garrafas pet, lixo e muitas outras fontes poluidoras. Lamentavelmente, o tão temido uso indevido das águas do reservatório do Ribeirão João Leite já está sendo verificado.

Até hoje não foi instalado um alambrado, estabelecendo uma zona de proteção em torno do reservatório, para coibir e restringir a aproximação. Não há também um plano de contenção das cargas perigosas oriundas de veículos que trafegam pelas rodovias BR-060 e GO-080, nas proximidades da barragem do Ribeirão João Leite.

Medidas preventivas para evitar ocupações irregulares às margens e acidentes com veículos que transportam cargas perigosas, como combustíveis, defensivos agrícolas, substâncias tóxicas, produtos corrosivos e similares – o reservatório está próximo a duas rodovias de grande movimento – não foram adotadas. É necessário ainda garantir o cumprimento de dispositivo previsto na lei do Plano Diretor de Goiânia, que veda a instalação de empreendimentos nas proximidades da barragem.

Será que vão esperar uma tragédia acontecer para só depois tomarem as providências sobre o leite derramado? Todos os órgãos governamentais, prefeituras da região metropolitana e instituições ambientais, envolvidos com a operação do sistema, consumo, proteção, fiscalização do reservatório e prevenção de acidentes, deveriam estar trabalhando, efetivamente, de forma conjunta e harmônica para garantir o bom funcionamento e a proteção daquele patrimônio vital dos goianos.

A conjuntura tem nos mostrado que o crescimento desordenado das grandes metrópoles está contribuindo decisivamente para a escassez da água, um dos recursos naturais mais importantes do planeta. E a ausência de fiscalização adequada, sistema de proteção eficiente e consciência ecológica tem levado à degradação dos rios e até das represas que servem de reservatório para fornecimento de água para o consumo das populações. Existem muitos exemplos dessa tragédia, como é o caso da represa Billings, o maior reservatório da Grande São Paulo, mas cuja qualidade e quantidade da água estão comprometidas.

Diante dessa realidade sombria, que ameaça gravemente uma das maiores obras de engenharia na área de saneamento do país, lançamos o Manifesto SOS Reservatório do João Leite, dirigimos um apelo ao governo do Estado e conclamamos toda a sociedade goianiense a abraçar esta causa, que pertence a todos nós. Enviem e-mails, telegramas, cartas e cobrem diretamente dos parlamentares e governantes, providências neste sentido.

Sem a proteção máxima e urgente do reservatório do João Leite, o maior manancial a céu aberto da América Latina, em termos de área inundada, a nossa qualidade de vida, dos nossos filhos e netos estará comprometida.
Rusembergue Barbosa é presidente do PRB de Goiânia e do Conselho de Ética da Câmara Municipal de Goiânia.

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