sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Estátua de Pedro e Morro da Serrinha: problemas diferentes que se misturaram

Contra o Impacto Anbiental e a favor de um Parque

Publicado no Clube de Notícias
Clube de Engenharia de Goiás
Junho de 2010, Ano XIV, nº 287
Páginas 18 e 19

Estamos enfrentando dois casos distintos, mas que acabaram por se misturar: fazer uma excelente homenagem a Pedro Ludovico Teixeira e a preservação e transformação do Morro da Serrinha num parque ambiental. Autoridades políticas, organizações não-governamentais e associações, como a Associação dos Amigos do Morro da Serrinha, já cansaram de delatar e registrar, em vários tipos de comunicação, o estado avançado de degradação ambiental em que o Morro da Serrinha se encontra.

O morro é uma área pública destinada a ser um parque, de acordo com o plano original de Goiânia, de autoria do estimado urbanista Attilio Corrêa Lima. Segundo historiadores, o então governador do estado e fundador de Goiânia, Pedro Ludovico Teixeira, vislumbrou lá de cima, montado em seu cavalo, onde seria erguida a nova capital de Goiás. Atualmente, a área em questão é uma APP (área de proteção permanente) que deveria ser de propriedade do município de Goiânia, mas hoje possui muitos “donos”, sendo um deles o Estado de Goiás, o qual adquiriu “uma parte” do morro durante as negociações para a instalação sem sucesso do comentado Teleporto.

Hoje, o topo do morro sofre com as instalações de torres de telefonia e de um reservatório d’água, e seus arredores ultimamente só estão servindo para que parte da população local jogue seu lixo, retire parte do seu solo, provoquem queimadas, derrubem árvores e arbustos nativos do cerrado com a finalidade de fazer lenha, além de praticarem alguns delitos, como uso e venda de entorpecentes.

Além da péssima iluminação ao seu redor, o local se transformou num verdadeiro ponto sem total segurança para a população vizinha e para as pessoas que frequentemente se encontram ali para suas celebrações religiosas ou para esporádicas prática de esportes, como o montanhismo e mountain biking.

Portanto, é de fácil compreensão do por que tanto a família de Pedro Ludovico, quanto autoridades políticas, historiadores e ambientalistas refutam e não concordam com a decisão da secretária da AGEPEL, Linda Monteiro, em instalar o grandioso monumento em homenagem ao Pedro Ludovico Teixeira no Morro da Serrinha.

Para os familiares do ex-governador, políticos e historiadores, o morro, na situação em que se encontra hoje, não é nem de longe o local ideal para tamanha homenagem, onde ela certamente sofreria futuramente com descaso, abandono e depredações. Muitos defendem a construção de um memorial, assim como o que foi feito para JK em Brasília, ou que pelo menos a estátua seja alocada onde Pedro Ludovico comandou Goiás: a Praça Cívica, a qual leva o seu nome. Ou seja, num local onde a estátua pode ser mais bem vista e preservada.

Já os ambientalistas desejam que a Serrinha seja transformada em parque o mais rápido possível, que todas as construções humanas no local sejam retiradas do local e que seja feita a recuperação vegetal desse resquício de cerrado perdido em meio a uma área altamente urbanizada de Goiânia.

Mas com a decisão quase que irrevogável da inacessível secretária Linda Monteiro, a partir da qual já está até aberta a licitação para a construção do local para receber a estátua, toda a população de Goiânia se sente de certa forma impotente quanto à possibilidade de escolha de um local para o monumento. Onde exatamente vai ser colocada a estátua? Que tipo de estrutura será criado? Qual será o impacto ambiental? Vai ser mesmo criado um parque no morro? E qual será o tamanho desse parque? Vai ser justa a homenagem ao fundador da capital? Vale ressaltar que uma enquete realizada pelo jornal Diário da Manhã em janeiro de 2009 mostrou que 83% dos 47 leitores entrevistados preferem a instalação do monumento de Pedro Ludovico na Praça Cívica, e não no Morro da Serrinha.

Em suma, sou contra qualquer tipo de impacto ambiental que possa ser causado ao Morro da Serrinha e prezo pela rápida criação de um parque no local e retirada de todas as instalações prediais existentes. Quanto à estátua, defendo que seja colocada em um local bem visto, como a Praça Cívica, ou que seja criado um memorial para Pedro Ludovico em outro local, que não seja o morro, visto sua situação degradante atual.


João Paulo Antunes da Silva - Presidente da Associação dos Amigos do Morro da Serrinha, graduado em Ciências Biológicas (UEG), pós-graduado lato sensu em Perícia Ambiental (PUC-GO), professor de Educação Ambiental e de Ecologia e Meio Ambiente da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).